domingo, 10 de julho de 2011

Cavogira

Eu sou a Sara, mas toda a gente me trata por “Sarocas”. Tenho 15 anos e já vivi a história mais feliz da minha vida, tudo começou assim….

Estava sentada no sofá a ver televisão, tinha acabado de sair da escola e a minha mãe estava na cozinha a preparar-me o lanche.
Estava muito bem a ver um programa quando, de repente, interromperam a emissão e deram uma notícia de última hora que dizia: “Atenção: animal fora do normal anda à solta na cidade. Por favor, se o virem não lhe toquem, pois pode ser perigoso. Obrigado. Em breve, será transmitida mais informação”…
Mal vi aquilo fiquei completamente “louca”, eu era doida por Ciências, tudo o que estivesse relacionado com animais eu adorava; até já tinha pensado em ser cientista quando fosse maior! Fui logo à janela ver se via alguma coisa, mas nada…
A minha mãe perguntou-me o que se passava. Eu contei-lhe tudo e ela disse-me logo:
- Sara, não te vais meter em nada, e nem penses em ires à procura desse tal “bicho”. Vá, anda comer e deixa a televisão.
Fui logo comer, o mais rápido possível, não podia perder uma oportunidade destas!
Pensei… e pensei mas não me vinha nada à cabeça.
Este animal tinha mesmo de ser meu, mas ia-me custar tanto... Uff… nem queria pensar.
Ao jantar, estávamos todos à mesa e eu comecei a falar deste assunto. Ninguém achava que eu devia procurar o animal e todos me chamavam “maluca”. Os meus irmãos até duvidavam que o animal existisse.
Eu não lhes liguei nenhuma. Saí da mesa e fui para o meu quarto escrever o que tinha ouvido na televisão. Através da internet ia recolhendo as informações que os jornalistas iam dando.
Já era tarde. Fui-me deitar porque estava ansiosa. Só queria que amanhecesse para chegar à escola rapidamente, a fim de contar às minhas colegas o que sabia e para ver se os jornalistas tinham mais informações.
Finalmente, já era de manhã. Mal acordei, fui logo ver se havia mais informações sobre o “meu” animal… mas nada, começou mal o meu dia.
Saí de casa e fui para a escola. Esta não tinha quase ninguém, não percebia muito bem porquê. Fui para a aula e a minha professora disse que metade dos alunos não vinha à escola por causa do tal animal. Achei uma parvoíce! Eu queria encontrá-lo e os outros fugiam dele: era ridículo!
Quando saí da escola, resolvi ir fazer uma pesquisa sobre o meu animal... tinha que o encontrar. Era um espectáculo se o visse!
Procurei… procurei… mas nada, o animal não aparecia. Eu pensava “Será que já o encontraram?”…
Não, não podia ser, porque se o encontrassem iam matá-lo ou mandá-lo para um sítio bem longe daqui. Afinal era um animal estranho!
Enfim… tinha que continuar a procurá-lo, não podia deixar que ninguém se aproximasse dele, muito menos o apanhassem.
Quando cheguei a casa, estava a dar uma notícia na televisão a dizer que o animal cada vez estava mais perto das nossas casas, dizia que já lhe tinham tirado fotos e tudo. Fiquei furiosa, “porque é que as outras pessoas o vêem e eu não?”
No dia seguinte, fui procurar o animal. Não ia descansar enquanto não o encontrasse.
Fui até à Floresta Colorida, que era uma enorme floresta que rodeava a cidade e começava junto à minha casa. Era para lá que os animais iam todos: pássaros, répteis... tudo!
Eu fui com a Sónia e com a Susana, porque sozinha não metia muita piada... estávamos a conversar muito divertidas quando, de repente, passou um “animal” por nós um bocado estranho... parecia um cavalo, mas tinha manchas, que estranho!
Fiquei um pouco confusa, mas quando comecei a pensar… “é verdade a notícia que eu tinha visto falava de um animal que era metade cavalo metade girafa”. Batia certo, era um cavalo com manchas!
Comecei logo aos gritos e a correr para ver onde é que ele ia… Mas nunca mais o vi!
Fui para casa pensar no que haveria de fazer…
No outro dia, nem fui à escola, mas a minha mãe nem soube… Eu tinha mesmo que o ver outra vez!
Cheguei à Floresta Colorida. Ia com muito cuidado para não fazer barulho, para não o assustar.
Comecei a andar devagarinho, e lá estava ele, deitado, muito quieto. Parecia que estava morto.
Eu fui-me aproximando dele, mas quando estava mesmo a chegar, ele levantou-se muito rápido e fez um barulho estranho. Eu disse-lhe assim:
- Tem calma, não te vou fazer mal, apenas adoro animais e Ciências e adorava conhecer-te melhor. Não fujas de mim!
Com muito espanto meu, ele respondeu-me:
- Não te aproximes de mim, pois não gosto de humanos!... E fugiu.
Eu fui a correr para casa de boca aberta!
“Meu Deus, como é que era possível um animal falar? Será que eu ouvi mal? Ou estava a sonhar?”
No dia seguinte, cheguei à escola e contei à Sónia e à Susana o que me tinha acontecido. Elas não acreditaram (era de esperar!), mas eu disse-lhes para irem comigo, naquela tarde, à Floresta Colorida.
Chegámos, mas ele não estava lá.
Fiquei muito triste porque a Susana e a Sónia diziam que era tudo mentira e que eu estava a alucinar com o tal animal.
Elas foram-se embora e eu fiquei lá sozinha…
Passado um bocado, o animal apareceu. Veio ter comigo e disse-me:
- Tu achas mesmo que sou giro e interessante? É porque anda a cidade TODA a fugir de mim. Todos me querem apanhar para me matar. Achas que eu era capaz de fazer mal a alguém?
- Eu acho que não! Eu queria mesmo encontrar-te, pois acho que és lindo, apesar de seres fora do vulgar. És muito interessante, és único! Adorava estudar-te, saber mais coisas de ti. Acho que és fabuloso! – disse eu.
O dia foi passando e nós continuávamos a falar de sobre ele, sobre mim, sobre a vida, sobre TUDO!
Fui para casa jantar e ia extremamente contente, pois, no dia seguinte, depois da escola, ia levar a Susana e a Sónia comigo, para verem o meu novo amigo - o Cavogira (o animal estranho)!
Desta vez, elas chegaram e viram-no. Ficaram espantadas:
- Como era possível um animal falar? Muito estranho mesmo!
A partir desse dia, eu comecei a ir sempre ter com ele depois da escola, a levar-lhe comida, a contar-lhe as minhas histórias. Era o meu melhor amigo. Mas ninguém podia saber, nem mesmo a minha mãe, se não… nem queria pensar no que poderia acontecer!
Um dia, ele contou-me que era assim tão estranho porque o pai dele era Cavalo e a mãe era uma Girafa. Logo ele tinha que ser assim, metade Cavalo e metade Girafa.
Só que ele os tinha perdido. Ele contou-me que num dia em que eles tinham ido dar um passeio na floresta, uns caçadores vieram atrás deles. Como eram os três muito grandes, cada um teve que ir para o seu lado… E nunca mais se viram!
Fiquei muito triste, pois não ter pais deve de ser uma coisa horrível. Eu também lhe disse que não tinha pai, mas que a minha mãe valia por 100 pais ou mais, era a melhor sem dúvida alguma!
Passaram-se dias e dias, meses e meses e o Cavogira encontrava-se sempre comigo na floresta!
Eu gostava tanto, mas tanto dele, que o animal era uma espécie de “meu diário” - eu contava-lhe tudo e ele a mim… éramos mesmo bons amigos!
Um dia estava a chover muito, a trovejar, uma tempestade horrível… e eu fui ter com o Cavogira.
Ele estava muito doente, cheio de frio e com medo. Mas eu não podia fazer nada, ele era enorme! A minha casa não era assim tão pequena, mas mesmo assim ele não cabia lá. Para onde é que eu o levava? Ele assim ia acabar por morrer, com frio, doente... e com esta tempestade horrível… Nem queria imaginar. Sem ele, viver já não era a mesma coisa!
Eu não queria nada deixá-lo ali sozinho a noite toda. Ainda por cima ele tinha muito medo, era como eu… também tenho muito medo de trovoada. Mas eu sempre tinha uma casa para me abrigar… Ele não tinha nada!
Antes de eu ir para casa, ele abraçou-me à maneira dele, e disse-me que se acontecesse alguma coisa, para eu nunca o esquecer, porque ele ia fazer o mesmo. Nunca mais me ia esquecer. Ele dizia-me muitas vezes que eu era uma das coisas mais importantes da vida dele, e que NUNCA, mas NUNCA me ia esquecer. Eu disse-lhe o mesmo.
Fui para casa com uma sensação estranha, parecia que ele se estava a despedir de mim e isso não me agradava mesmo nada.
Não dormi a noite inteira, não parava de pensar naquelas frases doces e marcantes.
No outro dia, mal me levantei da cama fui arranjar-me e fui ter com ele. Mas quando cheguei lá puff… ele tinha desaparecido, não estava lá nada! Desatei a chorar… “Eu sabia que ele não estava bem e mesmo assim deixei-o lá sozinho.”
- Fogo, sou uma estúpida!
Quando me aproximei mais do sítio onde estávamos sempre… estava lá uma carta que ele tinha deixado para mim… ele devia ter pedido a alguém para escrever sei lá, mas era dele. A carta dizia assim:
“Minha querida Sarocas, tive que me ir embora, pois aqui não estava seguro, apesar de estares sempre comigo! Lembra-te sempre de uma coisa, eu NUNCA te vou esquecer, és uma amiga espectacular... nunca vou esquecer os nossos momentos e tudo o que passámos juntos!
Por favor não te sintas culpada, porque tu fizeste tudo para eu poder estar tanto tempo ao teu lado.
Agora chegou a hora. Eu tinha que ir à procura dos meus pais!
Prometo que, assim que puder, volto para te dar um abraço bem apertadinho! Nunca me vou esquecer de ti e vou ter muitas saudades tuas.!
Beijinhos , Cavogira”
Assim que acabei de ler isto, ainda chorei mais. Agora tenho uma certeza - todos nós, humanos ou animais, podemos parecer estranhos por fora, ou mesmo ter um aspecto horrível, mas o que interessa é como somos por dentro.
É como este meu amigo. Acreditem que não há nenhum como ele e, no entanto, andavam todos atrás dele para o apanharem e para o matarem.
Todos os dias, no mesmo sítio e à mesma hora, eu estava lá, mas nunca mais o vi!s are

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