domingo, 10 de julho de 2011

Chipante

Querido Diário:
Às vezes, ponho-me a pensar se para lá do nosso mundo não haverá um outro... Penso se conseguirei algum dia sair desta cadeira de rodas onde estou preso e poderei começar a andar...
Penso também se algum dia poderei entrar na máquina de que toda a gente fala. A máquina que existe no laboratório onde o meu irmão trabalhava.
Bastava sentar-me um momento naquela máquina para estar noutro mundo, como por magia. O meu corpo tornar-se-ia num "avatar" e eu conseguiria controlá-lo. Como se fosse eu dentro do meu próprio corpo. Mas só com outra aparência.
Por exemplo poderia ser o meu animal imaginário o meu "Chinpante". Um animal fora do normal. Um macaco com cabeça de elefante.
7 de Junho de 2011
Sou o André e este sou eu numa cadeira de rodas.
Hoje, pela primeira vez, entrei no laboratório do meu irmão e coloquei-me dentro da máquina que ele construiu. Mal entrei, senti uma coisa muito forte. Fez-me lembrar o meu irmão e vieram-me as lágrimas aos olhos. Sinto muito a falta dele.
Quando eu era pequeno, ele dizia-me que quando eu fosse maior iria ser como ele, e iria ter uma coisa que eu sempre quis ter. O que eu sempre quis foi ter as minhas pernas de volta e poder andar.
Entrei no laboratório e fiquei impressionado com a máquina que o meu irmão construiu. Decidi ir logo experimentá-la. Pus-me dentro da máquina, fechei os olhos e....!
Puff! Estava noutro mundo. Não sabia como, mas sentia-me tão diferente, como se estivesse no corpo de... E era verdade! Estava mesmo no corpo do meu "Chinpante". O meu irmão sempre teve razão. Eu conseguira o que queria. E agora? Estava na hora. Levantei-me, mexi as minhas pernas e os meus pés... Estava a andar.
Vi uma porta semi-aberta, decidi ir espreitar, e vi imensos animais e plantas fora do normal. Olhei para o céu e vi os planetas todos alinhados por ordem. Espreitava para todo o lado e não via ninguém. Até que as plantas mexeram-se e de lá saiu um avatar com cabeça de borboleta e o corpo de peixe com pernas! Por mais incrível que pareça, era linda! Saltou em direcção a mim, prendeu-me com as suas patas lindas e disse-me:
- Quem és tu? O que estás a fazer no meu mundo ?
- Calma, eu sou um Chinpante e chamo-me André.
-Espera lá. Tu és o irmão do...
Por momentos pareceu-me que ela estava com lágrimas nos olhos.
-Sim sou o irmão dele.
-Desculpa ter-te atacado. Não era minha intenção. Só que há pessoas que nos querem atacar e eu e a minha aldeia estamos em risco de morrer.
- Mas o que se passa?
-Anda comigo e eu conto-te tudo pelo caminho.
Assim foi, andámos bastante. Eu só olhava para a sua beleza, até que ela anunciou a nossa chegada à aldeia.
Olhei para todos os lados e não percebia por que todos estavam tão tristes. Até que alguém se dirigiu a mim:
-Sabemos quem tu és e lamentamos muito a morte do teu irmão. Ele era um grande guerreiro.
Eu não sabia do que falavam. Mandaram-me segui-los e levaram-me a uma gruta onde estava escrito o nome do meu irmão. Reparei que por baixo do nome dele estava algo escrito que não entendia. Perguntei:
-Podia-me traduzir isto, por favor ?
-Sim. "Aquele que, neste momento, se encontra já homem e que já sabe muito da vida é quem me vai seguir. Poderei já cá não estar, mas estou sempre na memória dele. Ele seguirá o meu caminho e conseguirá salvar esta aldeia. Só ele o conseguirá fazer. Quando ele entrar pela porta do nosso mundo vocês verão quem ele é".
- Sabem quem é essa pessoa?
- Sim.
- Então diga-me quem é se faz favor.
-Só o teu coração te dirá.
De um momento para o outro ouviu-se um enorme barulho, lá de fora da gruta.
Fiquei tão curioso que decidi ir espreitar. Vi que a aldeia estava a ser atacada. Dentro de mim, senti uma força tão grande que decidi atacar quem nos estava a magoar. Peguei numa lança e lutei. Sem perceber como consegui salvei-os.
Era de mim que o meu irmão falava. A rapariga que me levou para esta aldeia, levantou-se e deu-me um beijo e antes de ela se ir perguntei-lhe:
-Como te chamas ?
-Aparece logo à noite na lagoa azul...
Era de noite a lua brilhava e ao pé da lagoa azul lá estava ela. Depois de nova pergunta, respondeu-me:
-Sou a Sónia. Fui mulher do teu irmão. E antes de ele morrer disse-me - ela pôs a mão no meu coração - "haverá um rapaz com o meu coração não tenhas medo" e eu sei quem é ele.
Ela aproximou os lábios dos meus e unimo-nos como por magia.
Quando dou por mim, acordei na minha cama. Não passou tudo de um sonho. Mas o laboratório do meu irmão existe...

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